#.301 2º SETÊNIO
O SEGUNDO SETÊNIO — 7 A 14 ANOS
O tempo em que o coração da criança começa a aprender o mundo.
Entre os sete e quatorze anos, a alma infantil desperta para o sentir.
Se antes ela imitava, agora ela percebe.
Percebe o belo, o justo e o verdadeiro não mais apenas com o corpo, mas com o coração.
É nesse ciclo que o olhar do outro — do pai, da mãe, do professor — se transforma em espelho do mundo.
Tudo o que ela sente ser o “bem” e o “mal” nasce desse reflexo.
E aqui está o ponto decisivo: a criança sente o que nós ainda não conseguimos transformar em nós mesmos.
Por isso, o segundo setênio nos chama para a transmutação interior dos adultos.
Se os pais não buscam a própria cura, o filho carregará suas repetições.
Se não há reconciliação entre a razão e o coração, o livre-arbítrio da criança será moldado pela rigidez ou pela permissividade.
Ela crescerá sem aprender a decidir — ou decidirá apenas para agradar.
E mais tarde, já adulta, chamará de destino aquilo que foi apenas a falta de liberdade herdada.
A CRIANÇA PRECISA APRENDER A DECIDIR — E SENTIR AS CONSEQUÊNCIAS
Quando o adulto impede a criança de escolher, rouba-lhe a experiência da responsabilidade.
Quando ela é tolhida de errar, não aprende a reparar.
E assim nasce uma geração emocionalmente frágil, que não suporta o peso das próprias escolhas.
Muitos pais acreditam estar protegendo, mas na verdade estão decidindo no lugar de uma alma que veio ao mundo para exercitar o livre-arbítrio.
Toda vez que fazemos isso, desviamos o fluxo do aprendizado e geramos, inconscientemente, uma dívida espiritual.
Pois tudo o que não se aprende no amor, a vida repetirá na dor.
O CAMINHO DO SENTIR: EDUCAR PELO BELO
Entre os 7 e 14 anos, o aprendizado deve passar pelo coração.
A música, a arte, o contato com a natureza e a beleza despertam a moral, a sensibilidade e o senso de justiça.
A criança aprende a pensar sentindo — e a sentir pensando.
Quando o ensino se desconecta da emoção, ela decora, mas não compreende.
A escola deveria ser um espaço onde o pensar encontra o sentir e o fazer — não um depósito de informações, mas um jardim de significados.
E o professor, para cumprir seu papel, precisa antes ser um aprendiz de si mesmo.
Não basta saber, é preciso ser.
Ser humano, ser exemplo, ser presença.
Um mestre que ainda busca a própria inteireza forma alunos que desejam crescer.
Mas um adulto fragmentado gera crianças que aprendem a sobreviver.
O VALOR DO DINHEIRO, DA MORAL E DA BELEZA INTERIOR
É nessa fase que a criança começa a entender o mundo material.
É tempo de mostrar o valor do dinheiro não como poder, mas como energia.
Dinheiro é o símbolo do dar e receber — e só flui em quem aprendeu a gerar valor e gratidão.
Quando os pais vivem o dinheiro com medo, escassez ou culpa, o filho cresce com a alma dividida entre o desejo e a vergonha da prosperidade.
Tudo o que os adultos não curam em si, se transforma em destino nos filhos.
A PRESENÇA COMO CURA DO TÉDIO
O tédio de uma criança é a ausência de sentido herdada dos adultos.
Quando o coração dos pais está distante, a alma da criança se entedia da vida.
Ela perde a vontade de criar, de experimentar, de aprender.
E então surgem os extremos: a apatia ou a agressividade.
O tédio é a ausência do “vivo” dentro de casa — a falta do calor humano que se transmite na presença.
A cura?
É simples e profunda: olhar nos olhos, ouvir sem pressa, confiar.
Permitir que o filho erre e se reerga, que escolha e aprenda com as consequências.
Assim ele não crescerá anestesiado, nem buscando fora o amor que faltou dentro.
EDUCAR É UM ATO DE ALMA
Educar não é apenas preparar para o futuro — é permitir que o espírito da criança floresça no presente.
E isso só acontece quando os pais também se transformam.
Pois ninguém desperta em outro aquilo que ainda dorme em si.
Educar é um caminho de dupla mão: enquanto ensinamos o filho a viver, ele nos ensina a sentir.
Ele é o espelho do que não curamos, o convite para olharmos nossas próprias sombras.
E se resistirmos à transformação, ele manifestará em dor o que poderíamos ter transmutado em amor.
Perguntas que libertam o adulto e salvam o filho:
-
O que em mim minha criança interior ainda repete através do meu filho?
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O que preciso decidir diferente para que ele aprenda a ser livre?
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Será que quero formar um filho obediente ou um ser humano autêntico?
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Que mundo interno estou deixando como herança?
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